sexta-feira, 20 de abril de 2012

Es.Col.A da Fontinha: A arte de problematizar soluções

Ontem repetiu-se mais um triste exemplo da falsa democracia que cada vez mais se vai instalando e alastrando pelo nosso cantinho de terra aqui à beira mar plantado. Eram 9:45 da manhã quando a polícia invadiu a escola da Fontinha com o intuito de despejar os seus ocupantes. E quem eram esses ocupantes? Pois bem, esses ocupantes eram moradores da zona e as pessoas que se dedicaram à criação de um projecto funcional, autogestionado, virado para os interesses da comunidade local.

Mas vamos por partes...

O movimento Es.Col.A germinou há cerca de um ano, quando um grupo de pessoas constatou que a escola da Fontinha se encontrava fechada há mais de 5 anos e apresentou uma proposta à população para a reabilitação e requalificação desse espaço de forma a poder servir os seus habitantes e todos aqueles que por bem viessem, libertando o devido local do espectro de abandono e antro de toxicodependência que entretanto se havia transformado desde o seu abandono. E se no início ainda certamente que haviam uns quantos de desconfiados quanto às verdadeiras intenções destes, estas cedo se dissiparam assim que as pessoas começaram a ver que realmente aquilo que lhes foi proposto foi exactamente o que foi posto em práctica: a criação de um espaço comunitário aberto a todos, com actividades interessantes e capazes de integrar toda a sua população. Com isto, o projecto conquistou o seu maior objectivo: o apoio e o interesse da população.

O grave problema é que vivemos num país de burocratas sanguessugas, que têm muita dificuldade em compreender o que quer que seja que saia da sua "zona de conforto". Pior ainda, estes senhores julgam que estar no poder é sinónimo de autoridade para controlar o destino de tudo e todos, ao invés de ser uma responsabilidade civil em que o principal intuito é servir a sua comunidade. E é este tipo de confusão que é muito perigoso de se fazer, pois o povo português já viveu uma ditadura há ainda relativamente poucos anos e felizmente a grande maioria definitivamente não está minimamente disposta a voltar a andar de cavalo para burro.

Visto que o projecto da Es.Col.A da Fontinha não assenta nada bem com os principio deste núcleo de burocratas a solução encontrada por estes para a resolução deste "não-problema" foi precisamente tentar problematiza-lo ao máximo com o recurso ao já mais que habitual discurso demagógico, de que se tratava de um grupo de pessoas de extrema-esquerda ou de anarquistas que na ilegalidade se apoderaram de um espaço público, porque como é óbvio, este tipo de acções não pode ser feita por cidadãos conscientes do que é a cidadania, mas apenas por meliantes, bandidos, terroristas e extremistas!

Ora bem, aqui começa uma das bases para aquilo que eu considero ser uma das grandes contradições de todo este processo, pois um espaço público fechado não tem muito de público, enquanto que aberto à comunidade local e ao público em geral já serve bem mais o seu propósito. Mas ao que parece, as gentes do poder parecem discordar deste facto, pois o seu propósito não servia adequadamente os seus interesses económico-burocráticos.

Assim sendo, ao longo de um ano, a Câmara em vez de tentar desbloquear uma solução para algo que não era um problema para ninguém além destes fundamentalistas da religião burocrática, fez aquilo que faz de melhor e andou a tentar atirar areia para os olhos da população, recorrendo ao seu já gasto e mais do que previsível discurso demagogo, para tentar acabar com o projecto sem fazer muito má figura. E isto, quem foi seguindo atentamente este processo, foi o que viu acontecer vezes sem conta, com os constantes avanços e recuos nas negociações para a resolução deste processo, sem que nunca tenha sido posto em cima da mesa a verdadeira cedência do espaço a quem o recuperou, dinamizou e devolveu a quem é o seu verdadeiro dono: a população!

O que fica na ideia e na retina, na minha singela opinião, é que um grupo de pessoas que identificou um problema, pôs mãos à obra e decidiu criar uma solução exercendo ao mais alto nível o seu direito de cidadania. Por sua vez aqueles que, pelas funções que ocupam, obrigavam à resolução do problema e negligentemente foram adiando a apresentação de soluções, ao verem a sua soberania ameaçada, decidiram por todos os meios possíveis e imaginários dificultar ao máximo o processo até chegar aos termos que ontem todos vimos. Por isso aqui fica a minha grande questão para estes burocratas: Afinal qual é vossa função? Encontrar soluções para os problemas que nos afectam ou problematizar ao máximo as soluções que, nós no meio da confusão que vocês mesmos criaram, vamos encontrando?

Para finalizar, quero apenas deixar uma palavra de apoio a todas as pessoas que estiveram, estão e estarão envolvidas no projecto Es.Col.A, pois acredito firmemente que esta situação ainda irá explodir nas mãos de quem a criou. Acima de tudo, o que se viu ontem, serviu para alertar muitas pessoas para o trabalho que todos vós têm vindo a desenvolver. O que o poder está a conseguir fazer é criar um mártir, e desse mártir poderão vir a surgir muitas coisas boas. Não desistir, acreditar, lutar, inovar e criar novos desafios, é no meu entender, a palavra de ordem do momento! E acima de tudo, resistir!

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